ARTIGOS

Alimentação e Meio Ambiente

Como necessidade básica para viver, a alimentação e a comida sempre acompanharam o homem na história. A relação com o alimento é primordial e se liga de modo profundo à nossa sobrevivência. Pode-se dizer que a história da humanidade é a busca do alimento, realizada através da cultura, tradições e organização social em que os grupos humanos estão inseridos; aliado ainda ao prazer que apresenta.

Hoje são assinaladas questões importantes provenientes de uma alimentação desequilibrada nos dois extremos, excesso e carência, gerando inúmeros problemas de saúde derivados da forma de consumo atual. Neste momento planetário de diversidade alimentar e desigualdade de acesso e provento, são evidentes os desequilíbrios para as duas extremidades, a falta e o excesso alimentar e suas consequências. Grande parcela da população ainda passa fome e morre não pela falta de alimentos, mas pela dificuldade de acesso aos recursos disponíveis. Vemos ainda formas de produção nem sempre adequadas a uma alimentação equilibrada e saudável.

Neste mês de outubro é celebrado o Dia Mundial da Alimentação, comemorado dia 16 como data escolhida pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) com o intuito de desenvolver uma reflexão a respeito do quadro atual da alimentação mundial e principalmente sobre a fome no planeta. A cada ano são trazidos temas que nos chamam a atenção para importantes questões envolvendo segurança alimentar e nutrição. Neste ano, 2014 foi escolhido como o “Ano Internacional da Agricultura Familiar” ressaltando a preocupação com o risco de agrotóxicos para a saúde e para o meio ambiente.

A agricultura familiar inclui todas as atividades agrícolas de base familiar e está ligada a diversas áreas do desenvolvimento rural. A agricultura familiar consiste em um meio de organização das produções agrícola, florestal, pesqueira, pastoril e aquícola que são gerenciadas e operadas por uma família e predominantemente dependente de mão-de-obra familiar, tanto de mulheres quanto de homens.

Tanto em países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, a agricultura familiar é a forma predominante de agricultura no setor de produção de alimentos.

Em nível nacional, existe uma série de fatores que são fundamentais para o bom desenvolvimento da agricultura familiar, tais como: condições agroecológicas e as características territoriais; ambiente político; acesso aos mercados; o acesso à terra e aos recursos naturais; acesso à tecnologia e serviços de extensão; o acesso ao financiamento; condições demográficas, econômicas e socioculturais; disponibilidade de educação especializada; entre outros. A agricultura familiar tem um importante papel socioeconômico, ambiental e cultural.

Diversas atividades estão sendo organizadas ao longo deste ano em todo o planeta, para discutir formas de fortalecer essa prática e ressaltar seus benefícios, buscando o resgate de uma alimentação mais saudável e sustentável para a vida dos seres e meio ambiente.

Na UMAPAZ desenvolvemos atividades ligadas à Alimentação e Meio Ambiente com o objetivo de refletir e apreender de práticas que permitam a incorporação e multiplicação de atitudes favoráveis relacionadas às questões socioambientais em todas as etapas do ciclo de produção, consumo e destinação final de resíduos, levando em consideração aspectos da diversidade cultural da nossa população. Este enfoque visa ainda o reconhecimento de práticas conscientes de consumo como estratégias de promoção de saúde individual, coletiva e ambiental com impactos sociais e ambientais positivos. As atividades são oferecidas por meio de palestras, cursos e oficinas, ciclo de estudos e outros.

A reflexão, diálogo e troca de experiências e saberes pode nos direcionar na perspectiva de uma alimentação compatível com o momento atual, na integralidade do cuidado de toda a teia planetária e do prazer de comer e conviver.

Suely Feldman Bassi

Fonte: http://www.fao.org



Início da Primavera. 23/Setembro.
Sobre ciclos, mutação e permanência.

Há mais de 5000 anos, os chineses, apaixonados pela observação dos fenômenos na natureza, perceberam e organizaram o mundo em classificações denominadas “yin” e “yang”. Noite e dia, baixo e alto, vazio e cheio, repouso e agitação, entre outros. Todos esses estados, ao contrário do que aparentam, não são opostos entre si, mas sim complementares, fazendo parte de um mesmo processo. Assim como uma onda, que começa tranquila (yin), vai crescendo até seu máximo (yang) e depois quebra na praia, ou mesmo o Sol que vai à pino (yang) e se põe (yin) em um determinado instante, como explica a escritora Sonia Hirsch, nada é yin ou yang o tempo todo: tudo está em movimento e constante mutação.

Posteriormente, percebendo fases intermediárias entre essas transformações, os chineses criaram uma forma complementar de organização do mundo em cinco tipos de elementos/movimentos: Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água. Desde emoções, sentidos e órgãos principais do corpo, até as estações do ano, todos estes elementos são representações das diversas manifestações de yin e yang na natureza.

O elemento Madeira, por exemplo, além de representar a energia de expansão, a visão (olhos), o fígado e a vesícula biliar, representa também o início do movimento yang, ou seja, o movimento inicial de crescimento e florescimento, dado pela estação da Primavera.

Para os orientais, segundo o consultor e professor em I-Ching Roberto Otsu, a Primavera significa, dentre outras coisas, início de novos ciclos. Surgem os primeiros ventos quentes, a neve e o gelo começam a derreter, os rios voltam a correr e ficam mais caudalosos. É momento de transição entre o inverno (máximo de yin) e o verão (máximo de yang), onde a natureza começa a se “mostrar” para a vida. Também, nesta época, as plantas começam a se expandir e apresentar suas flores para que o vento, a água, insetos, pássaros e outros animais possam polinizá-las.

Neste contexto, lembrando que somos parte integrante e integrados à natureza, como podemos realizar esse movimento de transição entre o inverno (yin) e o verão (yang) de forma a acolher essa energia de crescimento da atual estação para “brotar” sentimentos de reconhecimento, compaixão e paz?

A vida nos floresce novamente oportunidades de renovar nossa forma de pensar e agir diante das mais diversas circunstâncias e também de perpetuar nossa própria espécie, cabendo a todos, então, a responsabilidade de “polinizar” ações que nutram o crescimento harmônico de novas sementes, frutos e a continuidade de novos ciclos da vida.

Texto por: Gabriela Fernandes, Hélio Francisco e Morgana Krauzer.



“Poucos são aqueles que veem com seus próprios olhos e sentem com seus próprios corações.” Albert Einstein No dia 08 de Junho comemora-se o dia Nacional da Ciência. Ocasião ideal para rever aquilo que é natural do ser humano e surgiu como essência do conhecimento muito antes de qualquer metodologia científica: o olhar.

Parafraseando Rubem Alves, o olhar, apesar de real não pode “ser pescado com as redes metodológicas da ciência”, ou seja, não há instrumento capaz de definir e medir o tamanho ou impacto de um “simples” olhar. No entanto, seu poder de conhecer, transformar, destruir e construir, é sempre percebido e levado em consideração.

O conhecimento dito científico proporcionou à humanidade vasto desenvolvimento técnico, tecnológico e material. No entanto, como a ciência é um produto da razão e da observação, ela não consegue responder algumas questões sobre o individual e o social.

Indo além do olhar, será a ciência capaz de explicar, quantificar e medir os sentimentos humanos mais profundos sobre a vida? Como medir o amor ou desamor sobre algo ou alguém? Como quantificar e organizar momentos de alegria? O quanto a tristeza influencia a relação entre as pessoas? É, portanto, necessário e oportuno re-avaliar o “culto” e a supervalorização da ciência, de suas instituições e das tecnologias aplicadas frente ao simplesmente ser humano.

Nessa perspectiva, surge a necessidade de outro tipo de olhar além do científico. Um olhar que toca o que há de mais profundo no ser humano: o olhar para dentro. Este olhar não se caracteriza, apenas, como um ato de atenção consigo mesmo (como narcisismo), mas como instrumento fundamental para o auto conhecimento, auto realização e relação harmônica com a natureza e o outro.

O olhar para dentro implica uma atitude reflexiva e crítica sobre o que é apresentado como normal e padronizado, tal como a ciência pratica. Como diz o poeta Manoel de Barros, “desfazer o normal há de ser a única norma”. Contudo, é preciso coragem e, acima de tudo, humildade para se realizar tal ação, mantendo a ciência sob limites impedindo-a de colonizar o humano pela pura lógica. Como disse Einstein ”tornou-se óbvio que nossa tecnologia excedeu nossa humanidade”.

Manter a capacidade da ciência de construir conhecimento e gerar tecnologias é de inegável importância. No entanto, utilizar tecnologias como internet, como automações de tarefas repetitivas, como telefonia celular, computação pessoal, tablets, gadgets, entre outros tantos “ets”, sem perder a nossa humanidade é o desafio que nos é contemporâneo e pode definir qual o tipo de Humanidade podemos vir a ser. Retomar o olhar em geral e em especial o olhar a si mesmo (o tal olhar para dentro) parece ser um bom começo nessa viagem de afirmar a humanidade em nós.


MEIO AMBIENTE URBANO

Neste dia tão especial quando comemoramos o Meio Ambiente nunca foi tão importante discutir o ambiente urbano. Em São Paulo estamos sentindo a falta que a água faz e convidamos todos para refletir se estão fazendo a sua parte na economia deste líquido tão precioso. 

Os problemas no abastecimento de água trazem à tona a questão da resiliência dos grandes centros urbanos e devemos refletir se estamos preparados para os desafios que as mudanças climáticas podem trazer para as Metrópoles. É interessante continuar o processo de ocupação na região dos Mananciais? 

O novo Plano Diretor traz de volta a área rural ao município e a esperança de, com isto, talvez ajudar a segurar o processo de expansão urbana nestas áreas do município e manter algumas regiões de cidade ainda verdes. 

Em meio a tudo isso, depois da Copa do Mundo, o parque Ibirapuera fará 60 anos. Nosso parque metropolitano, local do verde, do lazer e cultura no coração da cidade. Convidamos a todos participar desta homenagem. 



O dia do Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes

A data de 18 de Maio foi escolhida como o dia do Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. A data foi escolhida em lembrança do caso de Araceli Cabrera Sanches sequestrada, seviciada, estuprada e morta aos oito anos neste dia no ano de 1972.
A violência contra adolescentes e crianças, em todas as suas manifestações, configura uma das questões fundamentais a ser enfrentada na construção de uma sociedade que pratique a cultura da paz. Assim, a UMAPAZ abraça essa iniciativa e faz uma breve reflexão sobre a luta contra a violência.

Enfrentar a violência constrói a paz quando o enfrentamento se faz para além da energia e da práxis próprias da cultura da violência.

A cultura da violência se apresenta como sombra e penumbra, é invisível e silenciosa, e ao contrário do que busca a cultura da paz, quer indivíduos monotonamente iguais na ausência de reflexão critica e na aceitação dos atos de violência como parte natural da vida humana. É precisamente contra essa naturalização que a cultura da paz se insurge e configura uma luta. Não se trata, portanto, de lutar contra alguém ou algo, mas antes e, sobretudo de lutar por algo e por todos. Lutar contra implica subjugar e destruir, lançar mão de todos os meios. A luta que a cultura da paz almeja é a construção, a proposição a partir da compreensão que confronta e expõe a violência.

 Assim, nunca é demasiado lembrar que crianças e jovens adolescentes não são apenas filhos de outras pessoas, próximas ou distantes, não são apenas nossos filhos diretos, crianças e adolescentes são também os filhos que nós fomos, e são os pais de amanhã.

Quando Araceli é violada somos todos violados. Em cada violência aceita, praticada e consentida entre nós, desde o xingamento no transito até as pequenas e grandes discriminações, vive a oportunidade de reparar e prevenir atos de violência. Certamente será mais fácil deixar passar o que não nos afeta diretamente, mas será o mais humano?

“Não existe um caminho para a paz; a paz é o caminho.” (Mahatma Gandhi)

Cada vez mais, em nosso dia a dia, encontramos manifestações de violência, que nos assustam, elas estão em diversos contextos: nos lares, nas instituições, nos espaços de lazer, nos estádios, no trânsito, na via pública.

Texto: Andre Luiz Moura de Alcantara, Helgis Torres Cristofaro, Morgana Krauzer e Patricia Morales Bertucci.


Bem vindos ao mês de Abril!

Mês em que se celebra a importância de refletirmos sobre nossas ações neste planeta, nos reconhecendo como a própria Terra.

Dia 22 de Abril, comemora-se o dia da Terra. Data que se originou na década de 70, com a criação de uma agenda ambiental. Também Dia do Planeta Terra ou Dia da Mãe Terra. Que tem como objetivo à tomada de consciência dos recursos naturais, e porque não, uma chamada à participação cidadã, consciente e responsável.

A Carta da Terra, documento internacional lançado pela ONU em 2000, formaliza esta chamada para uma sociedade sustentável global, fundada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e na cultura de paz, e é aqui entendida como alicerce para a construção de cidadãos conscientes do papel da coletividade e de seu poder de intervenção. Como cidadãos conscientes, juntos podem repensar a cidade, alterar relações, transformar práticas cotidianas, e brindar a Terra como um espaço de possibilidades!

Equipe UMAPAZ 3




Tendências Pedagógicas
Ausônia F. Donato

Nós, educadores, ao escolhermos determinados objetivos, determinados conteúdos, determinadas técnicas, bem como formas de avaliar, estamos consciente ou inconscientemente fundamentados em algumas concepções de educação, de aprendizagem, de aluno. Consideramos o exercício de explicitar tais fundamentos absolutamente relevante. Dizemos até que, sem esta explicitação, é nos impossível compartilhar nossos conhecimentos, o que é um passo inicial para revermos, criticarmos, aprofundarmos nosso fazer pedagógico.

Este texto tem o propósito de, ao sucintamente apresentar as principais tendências pedagógicas, modestamente contribuir para que os educadores-leitores possam identificar em que premissas têm se apoiado ao desenvolver seu trabalho educacional. A classificação das tendências pedagógicas que utilizaremos tem como critério a percepção das relações entre educação e sociedade. Neste sentido, valendo-nos do pensamento do professor Saviani, podemos congregar as teorias que explicam diferentemente a relação educação — sociedade em três grupos: teorias não críticas, teorias crítico reprodutivistas e teoria crítica.

Teorias não Críticas

As teorias não críticas, por alguns denominadas de concepção redentora da educação ou de otimismo pedagógico ou, ainda, otimismo ingênuo, percebem a Educação com grande margem de autonomia em relação à sociedade e, portanto, procuram entender a educação por ela mesma. Percebem a sociedade como um todo harmonioso e que pode apresentar alguns desvios. Desvios estes que podem e devem ser corrigidos pela Educação. Assim é que a marginalidade é percebida como um desses desvios.

A Escola surge então, dentro desta perspectiva, para “redimir” os marginais, para equalizar as oportunidades sociais, para, enfim, resolver os problemas da sociedade.
A Educação tem aqui um caráter supra social, isto é, não está ligada a nenhuma classe social específica, mas serve a todas indistintamente. São três as Pedagogias ou Escolas que contemplam as teorias não críticas: Pedagogia Tradicional; Pedagogia Nova e a Pedagogia Tecnicista. A seguir, exporemos muito resumidamente as características mais significativas de cada uma.

Pedagogia Tradicional

No início do século passado, têm início os sistemas nacionais de ensino. Esses sistemas foram originalmente constituídos sob o seguinte princípio orientador: A Educação é direito de todos e dever do Estado. Com a Revolução Francesa, a burguesia, ao assumir o poder e com a intenção de neste se consolidar, defende a constituição de uma sociedade democrática, isto é, a consolidação da democracia burguesa. Para ascender a um tipo de sociedade fundada nos princípios da igualdade, fraternidade e liberdade entre os indivíduos, era imprescindível vencer a barreira da ignorância. Somente assim, seria possível transformar os súditos em cidadãos, isto é, em indivíduos livres porque esclarecidos. Tal tarefa só pode ser realizada através da escola.

Como se pode apreender, nesta perspectiva a marginalidade é identificada com a ignorância, ou seja, o marginal, na nova sociedade burguesa, é o ignorante. A escola é vista, portanto, como o instrumento para resolver o problema da marginalidade. Dentro deste quadro, o papel da escola é o de transmitir os conhecimentos acumulados pela humanidade. A escola tem a intenção de conduzir o aluno até o contato com as grandes realizações da humanidade aquisições científicas, obras primas da literatura e da arte, raciocínio e demonstrações plenamente elaborados. Esta escola enfatiza os modelos em todos os campos do saber.

O professor é o responsável pela transmissão dos conteúdos, é o centro do processo educativo. Deve, portanto, ter domínio dos conteúdos fundamentais e ser bem preparado para a transmissão do acervo cultural. A experiência relevante que o aluno deve vivenciar é a de ter acesso democrático às informações, conhecimento e idéias, podendo, assim, conhecer o mundo físico e social. Enfatiza se a disciplina intelectual para o que se necessita de atenção, concentração, silêncio e esforço. A escola é o lugar por excelência onde se raciocina e o ambiente deve necessariamente ser austero para o aluno não se dispersar.

O professor tem poder decisório quanto à metodologia, conteúdo e avaliação. Procura a retenção das informações e conceitos através da repetição de exercícios sistemáticos (tarefas). Há a tendência de tratar a todos os alunos igualmente: todos deverão seguir o mesmo ritmo de trabalho, estudar os mesmos livros texto, no mesmo material didático e adquirir os mesmos conhecimentos. Aqui, a concepção de educação é caracterizada como produto, já que modelos a serem alcançados estão pré estabelecidos. Não se enfatiza, portanto, o processo. São privilegiadas as atividades intelectuais.

A transferência da aprendizagem depende do treino, sendo indispensável a retenção, a memorização, para que o aluno responda a situações novas de forma semelhante às situações anteriores. Em resumo, pode se afirmar que nesta pedagogia há uma redução do processo educativo a, exclusivamente, uma de suas dimensões: a dimensão do saber. Retomemos as duas idéias principais desta pedagogia: a vocação de oportunizar a todos o acesso à escola, no sentido de transformar marginais (sinônimo de ignorantes) em cidadãos e a total autonomia da educação em relação à sociedade.

Pedagogia Nova

Educadores, já na primeira metade deste século, ancorados nessas idéias, se põem veementemente a criticar essa Escola, a partir daí denominada Tradicional, considerando a totalmente inadequada. Segundo esses críticos, a Pedagogia Tradicional não alcançou sua meta principal, ou seja, nem todos os indivíduos tiveram acesso a ela e nem todos que nela ingressaram foram bem sucedidos. E, além disso, nem todos que foram bem sucedidos nessa escola se ajustaram à sociedade que se queria consolidar. Dito de outro modo, esta escola falhou! Há que se mudá la!

Surge um grande movimento, cuja expressão maior foi o chamado Escolanovismo ou Escola Nova. Trata se, dito de forma bem simplificada, de mudar toda a lógica da Pedagogia Tradicional. Inicialmente o escolanovismo é implantado no âmbito de escolas experimentais. Segundo a Pedagogia Nova, o marginalizado deixa de ser visto como o ignorante. Passa a ser o rejeitado. Alguém, segundo esta Escola, se integra socialmente não quando é ilustrado, esclarecido, mas quando se sente aceito pelo grupo. É interessante registrar que as primeiras manifestações desse movimento se deram com crianças excepcionais, fora da instituição escolar. Lembremo nos, por exemplo, da pediatra Montessori. A partir dessas experiências, generalizam se os procedimentos pedagógicos para todo o sistema educacional.

Queremos salientar, também, a grande influência da Psicologia para a Escola Nova, através do uso intensivo de testes de inteligência, de personalidade, dentre outros. Por fim, não podemos nos esquecer de que princípios foram transportados quase que mecanicamente da chamada Terapia Centrada no Cliente, de Rogers, para a sala de aula. Daqui decorre o princípio norteador da Escola Nova: a neo diretividade e seus correlatos, como congruência, aceitação incondicional do aluno, respeito.

A educação atingirá seu objetivo – corrigir o desvio da marginalidade -, se incutir nos alunos o sentido de aceitação dos demais e pelos demais. Contribui assim para construir uma sociedade em que seus membros se aceitem e se respeitem em suas diferenças. Esta nova forma de entender a Educação, como já dissemos, leva necessariamente a uma mudança, por contraposição à Pedagogia Tradicional, nos elementos constitutivos da prática pedagógica. Assim é que o professor deixa de ser o centro do processo, dando o lugar ao aluno. O professor deixa de ser o transmissor dos conteúdos, passando a facilitador da aprendizagem. Os conteúdos programáticos passam a ser selecionados a partir dos interesses dos alunos. As técnicas pedagógicas da exposição, marca principal da Pedagogia Tradicional, cedem lugar aos trabalhos em grupos, dinâmicas de grupo, pesquisa, jogos de criatividade. A avaliação deixa de valorizar os aspectos cognitivos com ênfase na memorização, passando a valorizar os aspectos afetivos (atitudes) com ênfase em auto avaliação.

Descola se o eixo do ato pedagógico do intelecto para o sentimento, do aspecto lógico para o psicológico. Em resumo, as palavras de ordem da Pedagogia Tradicional são alteradas. Desta forma, esforço, disciplina, diretividade, quantidade passam a: interesse, espontaneidade, não diretividade, qualidade. Há, também, em decorrência desse ideário, uma mudança no “clima” da escola: de austero, para festivo, alegre, ruidoso, colorido. Reduz se, assim, o processo de ensino a uma de suas dimensões: a dimensão do saber ser. É preciso assinalar que este tipo de Escola, além de não cumprir o objetivo a que se propunha – tornar aceitos os indivíduos rejeitados -, devido ao afrouxamento de disciplina e a negligência com a transmissão de conteúdos, prejudicou os alunos das camadas populares que têm na escola o único canal de acesso ao conhecimento sistematizado. Acentuou se o problema da marginalidade.

Pedagogia Tecnicista

Diante da constatação de que também a Escola Nova não cumpre seu objetivo, há que – mais uma vez – mudar se a escola! Desta vez não se percebe o marginalizado como o não informado (Pedagogia Tradicional), nem tampouco como o rejeitado, o não aceito (Escola Nova), mas marginalizado passa a ser sinônimo de incompetente, ineficiente, de improdutivo. Temos como conseqüência que as principais premissas desta Pedagogia passam a ser: a eficiência, a racionalidade e a produtividade. O centro do ensino não é mais o professor, nem mais o aluno, mas as técnicas. Daí o nome desta Pedagogia: tecnicismo ou escola tecnicista. A partir desta pedagogia, reorganiza se o processo educativo no sentido de torná lo objetivo e operacional. As escolas passam a burocratizar se.

Exige se dos professores a operacionalização dos objetivos, como instrumento para medir comportamentos observáveis: só são válidos os comportamentos observáveis, porque mensuráveis, porque controláveis.
Dissemina se o uso da instrução programada (auto ensino), das máquinas de ensinar, testes de múltipla escolha, do tele ensino e múltiplos recursos audio visuais.
A Tecnologia Educacional, por coerência, é a grande inspiradora da Pedagogia Tecnicista. Esta pedagogia é sustentada por um dos paradigmas da Psicologia: o behaviorismo ou comportamentalismo. O tecnicismo é também suportado pela informática, cibernética e Engenharia Comportamental.

Correndo o risco de redundar, assiná-lo que, mais uma vez, o papel do professor é alterado: de transmissor de conteúdos e centro do processo, na Pedagogia Tradicional, passando a facilitador da aprendizagem do aluno, que é centro, na Escola Nova, agora, no tecnicismo, é um arranjador das contingências de ensino. Há muitos incentivos e recompensas às atividades desenvolvidas pelos alunos, levando a uma grande competitividade entre eles. Reduz se aqui o processo educativo a uma de suas dimensões: a dimensão do saber fazer. O tecnicismo, tendo rompido com a Escola Nova, acentua ainda mais o caos no sistema de ensino. Claro, esta Escola também não conseguiu atingir sua grande meta: transformar os marginalizados em indivíduos competentes, produtivos, para atuar no mercado. A simples razão para esse fracasso é que não existe articulação direta entre a escola e o processo produtivo.

Teorias Crítico Reprodutivistas

No final da década de 70, surge no cenário educacional um corpo de teorias, aqui denominadas crítico reprodutivistas, mas também conhecidas como pessimismo pedagógico ou pessimismo ingênuo na Educação. Têm como baliza a percepção de que a Educação, ao contrário do que pensam as teorias não críticas, sempre reproduz o sistema social onde se insere, sempre reproduz as desigualdades sociais. Seu nome, crítico reprodutivista, advém do fato de, apesar de perceberem a determinação social da educação (críticas), consideram que a educação mantém com a sociedade uma relação de dependência total (reprodutivista).

Para os crítico reprodutivistas, a Educação legitima a marginalização, reproduzindo a marginalidade social através da produção da marginalidade cultural, advindo daí o caráter seletivo da escola. Não é, portanto, possível compreender a Educação, senão a partir dos seus determinantes sociais. Diferentemente das teorias não críticas, as crítico reprodutivistas não possuem uma proposta pedagógica; limitam se às análises profundas da determinação social da Educação. Por isso, iremos apenas listá las, bem como a seus representantes: Teoria do sistema de ensino enquanto violência simbólica, de Bourdieu e Passeron; Teoria da escola enquanto aparelho ideológico do Estado, de Althusser, e Teoria da escola dualista, de C. Baudelot e R. Establet.
Como vimos, neste breve recorte histórico, a questão da marginalidade permanece.

Teoria Crítica

A partir do início dos anos 80, alguns educadores têm se colocado como questão: é possível ter se uma visão crítica da Educação, ou seja, perceber os determinantes sociais da Educação e, ao mesmo tempo, entendê la como um instrumento capaz de superar o problema da marginalidade? No sentido de dar resposta a esta questão, uma nova teoria vem sendo gestada: a teoria crítico social dos conteúdos. Admite ser a Educação determinada pela sociedade onde está situada, mas admite também que as instituições sociais apresentam uma natureza contraditória, daí a possibilidade de mudanças. Assim é que a Educação pode sim reproduzir as injustiças, mas tem também o poder de provocar mudanças.

Dentro desta perspectiva teórica, estamos num movimento que busca resgatar os aspectos positivos das teorias firmadas no cotidiano escolar (as teorias não críticas), articulando os na direção de uma transformação social. Assim, da Pedagogia Tradicional, resgata se a importância da dimensão do saber, da Escola Nova, a dimensão do saber ser, e da Pedagogia Tecnicista, a dimensão do saber fazer.
Em essência, sua proposta pedagógica traduz se pelos seguintes princípios:

• o caráter do processo educativo é essencialmente reflexivo, implica constante ato de desvelamento da realidade. Funda se na criatividade, estimula a reflexão e ação dos alunos sobre a realidade;

• a relação professor/aluno é democrática, baseada no diálogo. Ao professor cabe o exercício da autoridade competente. A teoria dialógica da ação afirma a autoridade e a liberdade. Não há liberdade sem autoridade;

• o ensino parte das percepções e experiências do aluno, considerando o como sujeito situado num determinado contexto social;

• a educação deve buscar ampliar a capacidade do aluno para detectar problemas reais e propôr lhes soluções originais e criativas. Objetiva também desenvolver a capacidade do aluno de fazer perguntas relevantes em qualquer situação e desenvolver habilidades intelectuais como a observação, análise, avaliação, compreensão e generalização. Para tanto, estimula a curiosidade e a atitude investigadora do aluno;

• o conteúdo parte da situação presente, concreta. Valoriza se o ensino competente e crítico de conteúdos como meio para instrumentalizar os alunos para uma prática social transformadora.

A educação é entendida como processo de criação e recriação de conhecimentos. Professor e aluno são considerados sujeitos do processo ensino aprendizagem. A apropriação do conhecimento é também um processo que demanda trabalho e disciplina. Valoriza se a problematização, o que implica uma análise crítica sobre a realidade-problema, desvelando a. É ir além das aparências e entender o real significado dos fatos. Ao concluirmos convidamos os educadores-leitores a refletirem sobre o significado e o sentido de nossas ações para a vida de nossos alunos e para a sociedade em geral.

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